"Mildes Campanário, Poesias Reunidas" foi uma organização miau realizada por Benilson Toniolo.
Em um período muito curto, Mildes Campanário surgiu, nos deslumbrou e depois se escondeu, nos abandonou, deixando no ar o eco das suas palavras. A nossa Salinger à beira-mar.
Todo poeta quer ser único, mas, mesmo não sendo tão Pessoa, sabe que é múltiplo nessa busca pela unicidade. Talvez seja essa ambiguidade que mova os grandes poetas.
Mildes Campanário era uma poeta que desejava e tecia essa multiplicidade, mas nunca foi e nunca será leve. Também era, além de tudo, gentil com quem apenas queria ser, ainda não era ou nunca chegou a ser e se sentir poeta. Assim, sem julgamento, abraçou muitos de nós, que só tínhamos pedras no meio do caminho e nenhum sentido.
E isso é algo que me faz lembrar dela, nas reuniões do Núcleo de Convivência Literária, na Associação Brasil – União Soviética, com muito carinho. Era ali que os inexperientes e inebriados de primeira hora pelo vício da palavra, da palavra que emula o que os sentimentos expressam pela figura da metáfora forçada, de dizer sem dizer, sem querer dizer, com medo de dizer e, por acaso e azar, ser entendido.
Ao contrário de nós, ela sabia de suas muitas facetas,
tinha uma maturidade que transparecia com mais nitidez em seus poemas, nos
quais o lirismo espelhava mais que um simples reflexo.
E é preciso ressaltar a firmeza de se encontrar em seu próprio tempo, um tempo outro, um tempo antes da vigência dessa busca incessante da eterna juventude, e de aceitar, sem abrir mão de suas dores, o que é inevitável e que toca os nossos calcanhares e nos traz dificuldades, ano após ano.
Trecho do prefácio de Carlos Roque