Em Crônicas, Casos e Causos: Armação de Búzios, o autor miau Júlio César Medeiros demonstra uma habilidade refinada na arte de contar histórias. O autor parte do princípio de que toda história, seja grandiosa ou simples, merece ser contada – mas para se tornar interessante, e mais ainda, literária, é preciso um cuidado excepcional na construção da narrativa.
Medeiros revela-se não apenas um narrador atento, mas um verdadeiro artesão da palavra. Antes mesmo de escolher a primeira letra, ele mergulha no contexto das histórias, tornando-se parte da experiência. Sua abordagem literária faz com que ele se transforme em uma espécie de personagem invisível, presente na essência do que é narrado, mas sem ofuscar os protagonistas e acontecimentos.
A grandeza do trabalho de Medeiros reside justamente na capacidade de se doar espiritualmente ao texto. O autor consegue transitar entre o que está escrito no papel e a experiência absorvida pelo leitor, criando uma ponte entre ambos. Mesmo nas passagens mais engraçadas, é como se o autor estivesse ali, ao lado do leitor, sorrindo e compartilhando aquele momento pela primeira vez.
O livro se destaca pelo modo como Medeiros consegue se afastar das histórias que conta – ainda que elas o envolvam profundamente. Ele é, ao mesmo tempo, o guia das narrativas e o espectador delas, oferecendo ao leitor uma experiência imersiva, onde cada "causo" ganha vida através de palavras cuidadosamente escolhidas.
Com esse trabalho, Júlio César Medeiros reafirma seu papel como um mediador primoroso entre as histórias que narra e a curiosidade dos leitores, cumprindo com maestria o papel de escritor que, mesmo invisível, é indispensável à arte da literatura.
[Cláudia Brino]
Estilo: crônica
Tamanho: 14x20
Capa: brochura
Páginas: 177
Ano: 2023
Editora: Costelas
Felinas
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