Em "Cortejo, procissão da dor" a autora miau Cláudia Brino conduz o leitor por uma experiência literária intensa e contemplativa, onde a morte se manifesta não como um evento isolado, mas como um ritual carregado de simbolismos e ressonâncias emocionais. A obra, composta por pequenos contos, não se prende a uma estrutura narrativa convencional, mas sim a fragmentos que, juntos, constroem um mosaico da despedida.
A escolha da autora por não definir o gênero da pessoa falecida amplia a universalidade da dor e da ausência, permitindo que cada leitor projete suas próprias experiências e afetos sobre a narrativa. O cortejo fúnebre, fio condutor do livro, é apresentado como um ato coletivo e, ao mesmo tempo, profundamente solitário – um instante suspenso no tempo em que lembranças, saudades e o peso da finitude se entrelaçam.
Brino demonstra uma prosa sensível e poética, com uma linguagem enxuta que evoca imagens densas e pungentes. Seu estilo direto, sem excessos descritivos, confere à leitura um tom quase litúrgico, como se cada conto fosse uma prece, um instante de luto e reflexão.
Cortejo, procissão da dor não busca respostas, nem reconforto. Ao invés disso, apresenta a morte como parte inevitável do existir, abordando-a com respeito e um lirismo melancólico.
[Cláudia Brino]
Capa brochura, 49 páginas
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